O Valor das Pequenas Grandes Coisas

Embora os meus pais pensem que não, eu sou bastante apegado as coisas que me dão. Há uns dias estraguei um relógio que me foi dado pelo meu pai, nem imaginam a raiva que me deu, ainda por cima na situação que foi, numa confusão com um welsh bêbado. Adiante.
Apesar de ser o segundo relógio que o meu pai me deu, e não ter ligado tanto ao primeiro, este tem algo de especial. Foi me dado no dia em que estávamos a analisar a minha vinda para este país cinzento e era um relógio que ele usava. Alem de o usar, ele gostava do relógio e ainda pensou duas vezes para mo dar para a mão, mas lá ganhou coragem e acabou por passa-lo para a geração seguinte. Como é óbvio fiquei todo contente e vaidoso, e ainda agora apesar do vidro partido, lá anda ele no meu pulso.

Lembro me também, tinha para ai uns 7 anos de passar o mês de Dezembro a encher a cabeça dos meus pais com a prenda que mais queria, a carrinha dos MicroMachines. Depois de muitas insistências e negas em maior numero lá me acabei por conformar que não era este natal que ia ter aquela prenda. Mesmo sabendo que não ia ter a prenda o natal não ia ser diferente, ter a família toda junta em casa a contar historias pela noite dentro depois de um bom bacalhauzinho cozido é magico, especialmente para putos.
Depois de todas as prendas abertas, sobrava um embrulho enorme. (o meu pai tinha me dito antes que era umas louças para a minha mãe) Sabendo eu disto, viro me todo contente para a minha mãe, olha mãe ta aqui a tua prenda de natal, fui eu e o pai que escolhemos, com um sorriso de orelha a orelha. Depois de toda a gente saber que aquilo era para mim, vira se a minha mãe e diz, meu filho não é nada, é para ti. (Ela fala mesmo assim, mãe melosa.) Contente como nunca, lá fiquei eu a brincar com aquilo pela noite dentro.

Depois de 11 anos a ouvir a minha mãe a dizer que aquilo só servia para ocupar espaço e apanhar pó e mesmo assim relutante em me desfazer da carrinha, lá a resolvi dar aos meus sobrinhos. Se não adorasse os putos acho que ainda hoje tinha a carrinha em casa.

Eles podem pensar que não ligo as coisas por estarem estragadas ou paradas a um canto, mas para mim não há melhor.

Não sei o que me deu para escrever isto, talvez sejam das saudades e vem de tudo à cabeça.